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Letícia Pessoa revela desafios visando 2020, maior emoção no vôlei e dupla que sonhou treinar

três finais olímpicas

13 de março de 2019

Alison, Letícia Pessoa e Emanuel, em 2012

(Divulgação)

Da redação, no Rio de Janeiro (RJ) – 13.03.2019

Letícia Pessoa conhece os atalhos ao caminhar na areia. Três vezes finalista de uma edição dos Jogos Olímpicos, duas com Adriana Behar/Shelda (2000 e 2004), e uma com Emanuel/Alison (2012), a carioca continua com a mesma 'fome' por conquistas após quase 30 anos como treinadora do vôlei de praia. No comando do time Pedro Solberg/Vitor Felipe, que busca vaga aos Jogos de Tóquio, a treinadora falou sobre novos desafios, momentos mais emocionantes vividos no vôlei de praia, a dupla que gostaria de ter treinado e muito mais.  

Muitos conhecem a Letícia Pessoa treinadora, medalhista olímpica. Mas como foi o início no esporte, a vida de atleta?

Eu jogava vôlei pelo Flamengo desde os oito anos de idade. Por volta dos 14 anos, fui convocada para uma seleção brasileira de base, mas acabei torcendo o pé um dia antes da viagem. O Inaldo Manta era meu técnico no clube, e auxiliar na seleção. Um dia ele me perguntou ‘qual era meu sonho?’, e eu respondi que era ser campeã olímpica. Ele disse que teria uma notícia boa e uma ruim. A ruim era que eu não seria campeã olímpica como jogadora, por ter uma estatura baixa. E a boa era que eu tinha uma habilidade para líder e uma visão muito grande, que poderia ser uma boa treinadora. E desse momento em diante eu passei a ajudá-lo nos treinamentos, como assistente. 

E o começo na função de treinadora?

Quando fiz 18 anos, parei de jogar e fui para a faculdade. Tornei-me treinadora do Fluminense. E pouco depois, uma amiga da época do Flamengo, Roseli, comentou sobre torneios de vôlei de praia, dizendo que a maioria das duplas apenas jogava de forma recreativa, sem treinar, e se eu não teria interesse em treinar ela e a parceira Rose. Começamos a disputar torneios no Rio de Janeiro, fomos bem, e pouco depois começaram torneios internacionais, por volta de 1992. Jogamos o Alberto de Almería, na Espanha, ficando em terceiro lugar. Em 1994, Rose parou de jogar, e fui treinar Isabel Salgado e Roseli. Fomos o primeiro time brasileiro no feminino a vencer uma etapa do Circuito Mundial, em Miami (EUA). E desse ponto em diante fui seguindo, pouco depois apareceu a chance de trabalhar com Adriana Behar e Shelda, Emanuel, e é o que eu amo fazer.

Você foi uma das primeiras mulheres treinando equipes no voleibol. Considera que quebrou barreiras?

Eu nunca parei para pensar se quebrei algum paradigma, sempre fui muito profissional e nunca fui olhar para o sexo, idade, raça. Para ser técnico é preciso ter uma mistura de paixão com dedicação, paciência. Na época eu não me via sendo colocada de lado por ser mulher. Mas atualmente, um pouco mais experiente, sei que superei a desconfiança de muita gente. Mas nunca me importei com isso. O que sempre atraiu minha atenção foi ter o melhor time, tentar ganhar, realizar projetos consistentes. E acho que isso eu consegui.

Quais foram suas inspirações no vôlei?

Eu assisti entusiasmada aos Jogos Olímpicos de Moscou, em 1980, com 15 anos. Fiquei muito impactada. Gostei muito da Geração de Prata. O Bernard Rajzman inclusive foi quem me viu jogar vôlei quando criança, no Fluminense, e me chamou para jogar, foi um dos meus incentivadores. Então tenho uma admiração muito grande por essa equipe com Renan, Montanaro, Bernard, Xandó e vários outros. Depois, outra geração que me encantou imensamente também foi a seleção brasileira de 1996, bronze nos Jogos de Atlanta. Comandada por Bernardinho, com Leila, Márcia Fu, Ana Moser, Ana Paula, Virna, Fernanda Venturini. Elas jogavam um voleibol de altíssimo nível, com muita qualidade técnica. E por fim, a seleção de 2004, campeã olímpica com Giba como destaque. Foram várias gerações diferentes, sempre com uma mistura de talento, trabalho intenso, garra. Foram fases muito apaixonantes que admirei.

Quais os atletas mais habilidosos com quem trabalhou?

Shelda foi a atleta mais habilidosa com quem já trabalhei, sem dúvida, incluindo homens e mulheres. Era impressionante. Mas o atleta que mais me inspirou, inspirou gerações, quebrou recordes, foi o Emanuel. A falta que ele faz ao vôlei de praia é muito grande, pois ele é um exemplo em todas as áreas. Ele não era o melhor na defesa, por exemplo, nem era o melhor no saque. Mas ele era um atleta que treinava muito, que observava muitos jogos, valorizava os profissionais de comissão técnica, que sempre estava em busca de mais um título, com um posicionamento muito positivo. Foi um atleta imenso. Hoje treino Vitor Felipe e o Pedro, e sempre uso o exemplo do Emanuel, da Adriana Behar, Shelda. A perseverança desses profissionais em serem campeões.  Leila também foi uma atleta impressionante, Alison, um menino vencedor, que também, como o Emanuel, nunca foi o atleta mais técnico, mas sempre buscando evoluir. Sou privilegiada por ter tido a chance de treinar tantos nomes incríveis, são vários que me ensinaram muitas coisas.

Quais os desafios no projeto de levar o time Pedro Solberg/Vitor Felipe aos Jogos Olímpicos?

As coisas aconteceram muito rápido, mas meus objetivos nunca mudaram, eu quero estar sempre nos Jogos Olímpicos e buscar a medalha de ouro tão sonhada por todos. Já pude chegar perto dela e vamos buscar novamente. E o que estou vendo no Pedro Solberg é um jogador muito mais maduro, com experiência. E o jogador que ele é tecnicamente, nem preciso dizer, é um craque. E o Vitor Felipe é um menino com muita vontade. Logo depois das mudanças de dupla, liguei para ele no domingo, e no dia seguinte ele estava em Saquarema (RJ), treinando conosco com muita intensidade. É um atleta fisicamente privilegiado e que está buscando evoluir em todas as áreas. Estou muito animada com a vontade deles. Da parte do Pedro em ir novamente para os Jogos e ir ainda melhor do que foi na Rio-2016, e do Vitor em se tornar um atleta olímpico. Levei-o para os Jogos de Londres, para auxiliar nos treinamentos de Alison/Emanuel, já apostava nele naquela época. Sei que tivemos pouco tempo de trabalho, isso não é desculpa, mas vamos com tudo, vamos fazer o que pudermos para conseguir essa vaga. Vamos nos doar totalmente.

Qual foi o momento mais emocionante vivido no vôlei de praia?

O mais emocionante foi a aposentadoria do Emanuel. Eu quase não consigo falar. Foi uma pessoa com quem eu convivi muito, foi mais que um atleta. E ele ter parado de jogar realmente tirou um pedaço de nós. Acho que foi a coisa mais difícil e emocionante pela qual passei no vôlei de praia. Converso com Ricardo e ele também sente esse pedaço que falta, essa saudade. Mas tive com Emanuel e Alison a vitória no Campeonato Mundial de Roma, em 2011, foi um momento incrível, uma conquista espetacular. Com Adriana e Shelda vencemos também o Campeonato Mundial em 1999, na França. Shelda tinha se lesionado dez dias antes da competição, foi uma guerreira, se recuperou e conseguimos o ouro. Além de todas as edições dos Jogos Olímpicos que participamos, chegar em uma final é um sonho, e realizei três vezes. Todos esses momentos nos Jogos foram especiais, o desfile, em Londres, foi muito marcante. Sou muito feliz em minha carreira, a hora que não sentir mais isso, acabou.

O que explica o sucesso do Brasil no cenário mundial do vôlei de praia?

Acho que o maior fator é a paixão que os técnicos e atletas têm pelo vôlei de praia. É um esporte coletivo, mas individual, muito particular. Lutamos para crescer, contamos com o apoio da Confederação Brasileira de Voleibol (CBV), do Comitê Olímpico do Brasil (COB), mas o início foi ‘na raça’, procurando nosso lugar ao sol, contratar preparador físico, montar planejamento de viagens, buscar patrocinadores. A paixão, a vontade de realizar, acho incrível. Além do talento natural do brasileiro com a bola e o clima propício, um litoral muito extenso, um esporte relativamente barato para montar a estrutura inicial. São coisas que fazem o Brasil estar sempre brilhando no cenário mundial.

Existe alguma dupla que gostaria de ter treinado, mas não foi possível?

No naipe masculino, trabalhei com todos os atletas que gostaria, consegui me realizar. Já no naipe feminino, tinha muita vontade de trabalhar com Adriana Samuel e a Mônica Rodrigues, uma dupla que tinha muita paixão pelo vôlei, foram medalhistas olímpicas, vitoriosas. São minhas amigas hoje em dia, nos encontramos com frequência. Mas na época eram contemporâneas da Adriana Behar e da Shelda, então acabou não sendo possível. Éramos adversárias, mas nos respeitávamos muito, existia muita admiração. Seria bacana ter trabalhado com elas, mas não foi possível.

O Banco do Brasil é o patrocinador oficial do voleibol brasileiro