A 21ª final da Superliga feminina de vôlei ficou marcada pela despedida das quadras brasileiras de um dos grandes nomes da história do voleibol verde e amarelo. Aos 45 anos, a levantadora Fofão fez, neste domingo, o seu último jogo em território brasileiro. E a despedida foi em grande estilo. A jogadora conquistou o seu quinto título da competição – 98/99 pelo Uniban/São Bernardo (SP), 01/02, pelo MRV/Minas (MG), e, 12/13, 13/14 e 14/15 pelo Rexona-Ades – brilhou em quadra, foi eleita a melhor da partida e se manteve como a alma de uma equipe que teve a melhor campanha de todos os 13 times que participaram da competição.
A levantadora Fofão comentou sobre os momentos que antecederam a partida e garantiu que o jogo ficará marcado para sempre em sua memória.
‘A hora que eu chorei mesmo foi quando tocou o hino, mas foi muito rápido, espero que ninguém tenha visto. Por mais que fosse um momento difícil, não era a hora de demonstrar qualquer fraqueza. Olhei para as arquibancadas procurando todo mundo que veio, procurando mãe, procurando família, que é o único momento que eu reparo no que está ao meu redor, pois quando começa o jogo eu me fecho ali e não vejo mais nada. Na hora do hino fiquei refletindo e emocionada por uns segundos, mas consegui controlar a emoção’, disse Fofão, que ainda falou sobre a oportunidade de ter passado por diferentes gerações do voleibol brasileiro e a convivência com o treinador Bernardinho e com a ponteira Gabi.
‘Ter passado por três gerações foi uma experiência incrível. De repente eu cheguei, era a mais nova, depois fiquei com a mesma idade delas e após isso virei a mais velha. Foi uma experiência de vida que nunca esquecerei. Tive jogadoras que me ensinaram, eram craques e me deram referências para eu virar capitã, mas ao mesmo tempo, jogadoras de gerações mais jovens, como a Gabi, que me ajudou neste ano. A alegria dela contagia todo mundo, serve de motivação, eu precisava disso, virei moleca do lado dela. Fazia coisas que eu me travei a vida inteira de fazer porque achava que tinha muita responsabilidade. Ela me fez voltar no tempo e ser feliz de novo. Ela nunca terá noção de quanto me fez bem’, afirmou Fofão, que ainda guardou palavras especiais para o treinador Bernardinho.
‘Aproveito o gancho para agradecer também ao Bernardo. Eu não poderia estar em outro lugar, tinha que estar aqui para esse momento. Pois por mais experiência que eu tenha, ele nunca me tratou como a Fofão, ele sempre cobrou de mim, e era disso que eu precisava, não queria ninguém passando a mão na minha cabeça. Se eu estivesse mal eu saía, senão dava uma chance para ver se a coisa ia. Me tratava igual a todo mundo, pois era isso que eu precisava, não queria estar aqui só porque sou a Fofão, então esse respeito que ele teve comigo, a vontade que ele tem de vencer me ajudaram. Ainda temos o Mundial que vamos buscar antes de eu fechar esse ciclo, mas eu queria deixar registrado este agradecimento’, disse Fofão.
O treinador Bernardinho fez questão de elogiar Fofão pela dedicação e a postura dentro e fora de quadra ao longo de uma carreira marcada por títulos e uma incrível longevidade.
‘O diferencial não tem muito a ver com um detalhe técnico ou tático, que a gente respeita e faz, claro. Elas cumprem muito bem. Mas existe a postura, a pessoa. E digo que a Fofão é um exemplo por isso. Não apenas porque é uma grande jogadora, se transformou ao longos dos anos na maior levantadora do país e do mundo, mas é a pessoa. Esse sorriso. Uma preocupação que tenho apenas com a aposentadoria dela é quanto ela sentirá falta disso. Ela não está irritada no hotel, na concentração, está feliz de estar com as meninas. Uma paixão muito longa, bacana. É uma menina de 45 anos, jogou mal e saiu chorando um dia, nas quartas de final. Você vê a importância daquilo, do esporte, para ela. Com essa idade, chorou porque não foi bem em uma partida. A gente busca pessoas com esse tipo de postura, de atitude, paixão pelo que faz. E temos dois exemplos aqui, uma jovem que já tem esse perfil, a Gabi, e está construindo e uma que está se aposentando. Precisamos que as jovens se inspirem nisso’, ressaltou Bernardinho.
O nome de Fofão se tornou sinônimo de voleibol de qualidade. Campeã olímpica em Pequim, 2008, a levantadora participou de cinco Olimpíadas em sequência, de Barcelona, em 1992 a Pequim, em 2008, nas quais foi ainda duas vezes medalhista de bronze, em Atlanta (1996), e Sydney (2000). Foram ainda seis títulos do Grand Prix (94/96/98/04/06 e 08), uma medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos de Winnipeg, em 1999, dois vice-campeonatos mundiais, 1994 e 2006, além de outras conquistas com a seleção brasileira.