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De enjoar de pizza ao alívio no último ponto, André e George desembarcam na sexta etapa do Circuito Brasileiro com medalhas e histórias na bagagem

História para contar

25 de junho de 2022

George e André estão na disputa do Top 8 em Vila Velha

(Wander Roberto/Inovafoto/CBV)

André e George voltaram de Roma nesta semana com a medalha de bronze do Campeonato Mundial de vôlei de praia na mala diretamente para a sexta etapa do Circuito Brasileiro, em Vilha Velha (ES). Chegaram também com muitas histórias para contar, ainda que, mesmo estando separados contem as histórias do mesmo jeito. Apesar de liderarem o ranking mundial, os dois começaram o Mundial insatisfeitos com o desempenho que vinham tendo nos torneios anteriores. Os dois se alimentaram da energia passada por seus familiares presentes lá – a esposa de André e os pais de George estavam na Itália –, mas voltaram um pouco menos fãs da culinária italiana que tanto gostam. E comemoraram o bronze em um misto de alívio e cansaço.

Neste sábado, André e George entram em quadra pela terceira rodada da fase de grupos do Top 8 da sexta etapa do Circuito Brasileiro. As quartas de finais do Top 8 são ainda neste sábado, e as semifinais e disputas por medalhas são no domingo. As finais são a partir de 16h, com transmissão do sportv 2 e na Twitch com a streamer Nahzinhaa.

Confira a tabela completa de jogos do Top 8

 Como vocês chegaram para o Campeonato Mundial em termos de confiança, sendo líderes do ranking mundial?

André: “Essa etapa foi diferente porque a gente chegou como um dos favoritos, líder do ranking mundial esse ano, entre as equipes brasileiras também como favorita. Foi diferente de 2017, quando eu era o último e ninguém botava fé. Em 2019, também não era um dos favoritos entre os brasileiros, porque era uma dupla nova, que a gente tinha acabado de formar. Nessa, a gente chegou com mais responsabilidade. A gente veio de dois torneios Elite 16, que a gente fez um quinto e um terceiro lugar, mas jogando mal. A gente saiu com a medalha, mas não saiu satisfeito com nosso jogo, sabia que não estava nos cascos. De qualquer forma, a gente chegou em Roma tranquilo e com vontade de jogar. Campeonato Mundial é um torneio maior, é um torneio diferente”.

George: “Por incrível que pareça, a gente estava um pouco receoso. Apesar do pódio em Jurmala, a gente não jogou bem as duas etapas anteriores. A gente teve bons resultados, mas não vinha jogando nosso jogo. Mas sabia que campeonato grande é diferente, que tanto eu quanto André, a gente joga melhor. Tem aquela pressão do campeonato que acho que tira o melhor da gente. A gente foi sempre com o pé no chão, e no decorrer dos jogos foi saindo o que a gente joga, e foi dando cada vez mais confiança. Foi bem bacana a evolução tanto do jogo quanto da cabeça”.

Qual foi a sensação depois do último ponto que garantiu a medalha?

André: “Sempre falo com minha esposa que acho que ela fica mais feliz do que eu na hora que eu ganho, ela chora, comemora… Na disputa de terceiro, foi um jogo que a gente jogou muito mal o primeiro set, carregou o nervosismo da semifinal. E bateu um cansaço inexplicável na hora. Acho que juntou a pressão, a gente não dormiu também porque a semifinal foi muito tarde, e quando você perde fica revirando. No tie-break, quando acabou a gente nem conseguiu comemorar direito na quadra. A gente só se abraçou, estava muito cansado mesmo.

Mas depois, agora que já estou com a medalha, voltei para o Brasil, esse bronze me fez valorizar ainda mais a de ouro que ganhei em 2017. E já ter conquistado uma de ouro, me faz valorizar ainda mais essa de bronze. Eu lembrei o quanto é difícil chegar no pódio. Agora consigo até dar mais valor do que antes”.

George: “Sensação de alívio, sendo bem sincero. A gente começou muito mal o jogo, estava muito cansado porque não conseguiu dormir. A gente deixou escapar a final, foi um jogo tarde, então fica aquela memória na cabeça o tempo todo e é difícil de dormir, descansar para zerar o corpo e a cabeça para o outro dia. Então foi algo que a gente sentiu muito, e começou o jogo em um giro muito abaixo. Mas no decorrer do jogo a gente conseguiu ir se soltando. Foi uma sensação de alívio. Quando ele errou o saque, respirei e ‘Ah, acabou’. Mas é algo diferente de tudo, um campeonato dessa magnitude”

Como foi ter a presença da esposa do André e dos pais do George em Roma?

George: “Acho que qualquer amigo ou família que está lá é sempre bom. É um campeonato muito grande, um campeonato mais nervoso que o normal. Eu, particularmente, me sinto muito bem com minha família. Eles conseguem me fazer pensar em tudo fora do vôlei, me distrair mesmo. Acho muito importante porque é um campeonato de quase duas semanas, e se você ficar o tempo todo pensando só em vôlei, sua cabeça acaba ficando cansada para jogar. E o psicológico é muito importante nesse campeonato pela extensão dele.

E meu pai é meu amuleto da sorte, eu nunca me dei mal quando meu pai foi em uma etapa, sempre consegui um resultado muito bom. A galera até brinca que eu tinha que pagar para ele ir sempre. Mas eles me ajudam muito. E era uma energia tão boa, eles estavam tão felizes lá. Não só meus pais, mas a esposa do André, uns amigos da gente também estavam lá. Você vai se alimentando daquela energia tão boa que acaba tirando as coisas ruins da gente. Foi essencial para a gente, a gente se alimenta muito dessa energia”.

André: “Ter minha esposa lá e os pais do George deu uma renovada na cabeça. Sempre que tem uma perna muito grande lá fora, eu sempre gosto quando tem algum momento que dá para voltar ao Brasil. Pela cabeça mesmo, para renovar a cabeça. Quando está junto muito tempo, às vezes um enjoa da cara do outro, coisinha pequena começa a irritar, até com o Ernesto (Vogado) e o Riceler (Waske). E com eles a nossa relação é bem saudável porque eles são muito engraçados, é bem descontraído. E ter agora o Renato e o Vitor viajando com a gente dá uma aliviada no estresse em geral, fora da competição a gente se diverte bastante. Mas com minha esposa e os pais do George lá a gente conseguiu ver, sair, conhecer um pouco de Roma, e isso dava uma acalmada nos ânimos. E a vibração da torcida dá uma diferença também, a gente gosta disso”.

Conseguiram fazer alguma coisa no tempo livre em Roma?

André: “A gente conseguia sair com nossa família, conhecer alguma coisa da cidade, o Vaticano, o Coliseu. Mas sempre preocupado com o descanso, com a concentração no torneio. A gente é muito focado nisso. Acho que a gente conseguiu distrair de uma maneira saudável, o que a gente podia. Conseguiu andar pelas ruas, mas não deu para entrar em nada, fazer um passeio mesmo. Do que a gente viu, acho que o que dá um impacto maior é o Coliseu, pelo tamanho, mas eu queria ter feito o passeio dentro.

No Dia dos Namorados era folga, então minha esposa foi para o hotel para a gente almoçar junto, deu para aproveitar um pouco junto, mas foi um dia que fiquei mais descansando”.

George: “Sempre que acabava o jogo a gente se encontrava com nossa família, virou rotina lá. Terminava o jogo e a gente ia lá falar com eles, tirava uma foto. E a gente foi fazendo isso todos os dias e ia se alimentando dessa energia boa deles. A gente conseguiu até fazer uns passeios por causa das folgas. Nada muito exagerado para não cansar, mas foi ótimo”.

Vocês costumam fazer pizza juntos, conseguiram aproveitar a culinária italiana?

André: “Rapaz, a gente enjoou (de pizza). Eu e George fazemos pizza, pizza é minha comida favorita, eu amo pizza. Eu sempre falo que se tivesse uma comida para eu comer todos os dias, seria pizza. Mas nos 10 dias lá, deu uma enjoada. Também, a pizza que a gente comia lá não era aquela pizza, era uma pizza que já vem pronta, que era a que tinha na área dos atletas e a gente comia todos os dias. E macarrão também. A gente se salvou porque perto do hotel tinha um restaurante chinês, e aí tem um tempero diferente, então a gente foi revezando”.

George: “É bom, mas achei a pizza diferente da que a gente está acostumado. Acho que a gente coloca mais tempero aqui. Eu, particularmente, esperava um pouco mais da gastronomia de lá. Mas talvez por a gente não ter conseguido ir aos lugares corretos por causa da etapa”.

Como foi o confronto brasileiro com Bruno Schmidt/Saymon nas quartas de final?

George: “Foi realmente muito nervoso. Nos últimos jogos a gente tinha ganhado deles, então, querendo ou não, tinha uma pressão. A gente ficava pensando será que eles vêm com alguma coisa diferente. E lembrando do Mundial em Hamburgo (em 2019), a gente estava na frente nas quartas, ganhando de 14/11 no tie-break, levou a virada e ficou fora da semifinal. É um jogo que a gente sente muito quando fala dele, porque sabia que era um passo muito importante para a dupla. E a gente queria dar esse passo esse ano. Eu não consegui dormir direito de um dia para o outro, pensando no jogo, pensando no que ele valia, fique muito ansioso. Mas o André me ajudou muito, consegui me desprender disso tudo e só jogar”.

André: “O jogo das quartas de final foi um jogo muito nervoso, muito tenso para a gente, porque em 2019, no Mundial, a gente colocou um 14/11 no tie-break para ir para a semifinal contra os Estados Unidos, e tomou a virada. A gente precisava fazer um ponto, tomou a virada, e o Brasil acabou ficando sem ninguém na semifinal. É um jogo que não gosto de ver, não gosto de lembrar, não gosto de falar. É um jogo que eu perco o sono lembrando, foi muito traumatizante. Jogar as quartas contra o Bruno e o Saymon também tinha uma pressão porque a gente se enfrenta muito, se conhece muito. A gente vinha de bons resultados contra eles, mas isso se torna uma pressão maior lá, porque é um jogo mais importante, e já pensou se esse você vai perder.  Isso fica na cabeça um pouco. E tinha a questão de ter batido na trave no último Mundial, então foi um jogo muito nervoso. E eles estavam jogando muito bem também. Mas, para mim, o jogo mais nervoso foi a semifinal. Acho que a gente lidou melhor com o nervosismo nas quartas”.

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