Campinas, SP – No próximo domingo (28) todas as atenções do vôlei estão voltadas para Recife, onde acontece a final da Superliga Masculina. Na primeira vez que a Região Nordeste recebe o jogo mais importante e decisivo da maior competição nacional, alguns jogadores do Vôlei Renata, um dos finalistas do torneio, terão a oportunidade de estar perto de casa atuando pela primeira vez na carreira, o que torna o jogo contra o Sesi-SP ainda mais especial.
O time campineiro tem três nordestinos em seu elenco: o alagoano Maurício Borges, o paraibano Lucas Borges e o pernambucano Anderson. Nascido e formado em Recife, o levantador se recupera de uma cirurgia no joelho e não poderá estar em perto do elenco durante a visita à sua cidade natal. A “dupla de Borges”, que não tem nenhum parentesco, contudo, está empolgada em jogar perto dos amigos e parentes.
“O Nordeste é um espelho para tudo, mas não tem essa prioridade no vôlei. Gostaria muito que tivesse mais times no Nordeste porque é um centro importante, muitos atletas começaram lá, mas que, infelizmente, não tem essa oportunidade. Creio que seja um pedaço da minha cidade, está ali pertinho, vai ser um belo espetáculo”, comenta o campeão olímpico Maurício Borges, natural de Maceió, que teve a oportunidade de jogar em casa com a Seleção Brasileira no Sul-Americano de 2015, mas acabou ficando de fora por conta de uma lesão no pé.
No elenco que recebeu a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos Rio-2016 no vôlei, Maurício Borges é o único nascido no Nordeste. O ponteiro teve influência da família para começar no esporte. O principal espelho é sua mãe Marilda, atleta da seleção brasileira na década de 1970 e campeã sul-americana, e seu irmão Everthon, que estarão no Geraldão para acompanhar a final.
“É especial em tudo. Chegar a uma final de Campeonato Brasileiro, que é a Superliga, já é um sonho para todo atleta. Estar com essa galera chegando agora, essa nova geração, é um sonho a mais. Creio que crescemos numa hora boa, na hora certa. Vamos deixar tudo dentro da quadra, levar tudo que a gente sabe colocar em prática no domingo”, complementa Maurício Borges.
Subindo um pouco mais pelo litoral do Nordeste chegamos em João Pessoa, terra de Lucas Borges, oposto do Vôlei Renata. Depois da vitória do time campineiro para cima de Guarulhos, por 3 a 0, na série semifinal, o oposto de 30 anos se tornou um dos poucos paraibanos a serem finalistas da Superliga. Além dele, Honorato, pelo Minas, nas últimas duas temporadas, e Thiaguinho, do Sesi, são outros que possuem essa honraria.
“É um sentimento indescritível. Será minha primeira final de Superliga, a primeira no Nordeste, onde meus pais e irmão me assistirão pessoalmente. Com certeza, o pós jogo será um momento de muita emoção e lágrimas ao ver onde cheguei e poder receber o abraço e carinho deles. Por isto, é realmente uma coisa histórica. São tantos atletas bons que saem de lá e param de jogar por não ter tanto ‘olhar pra eles’, ou até mesmo incentivo”, comenta Lucas Borges. No final de fevereiro, os pais do oposto acompanharam ele jogando pela primeira vez na partida entre Vôlei Renata e Minas.
“A gente perde a proporção do alcance ou da referência que possamos ter. Ainda é difícil cair a ficha que estou na final, mas me sinto super grato e honrado por poder dizer que sou da Paraíba. Espero ser exemplo e espelho para muitos jovens para nunca desistir dos seus sonhos e correr atrás que no final tudo vale muito a pena”, acrescenta.
Apesar de ser da “capital nacional do vôlei de praia”, Lucas Borges começou nas quadras e se arriscou nas areias na tentativa de seguir seu sonho de viver do esporte. O oposto deixou a Paraíba em 2010, no seu último ano de infanto, para São José dos Campos. De lá seguiu para Brasília, Maringá, Montes Claros, Blumenau até chegar ao Vôlei Renata, na temporada 2022/2023.
“Por incrível que pareça eu comecei na quadra, só durante a faculdade fui para quadra e areia, mas era bem difícil aprender a ‘andar na areia’, como dizem. Foi uma experiência bem gratificante treinar ao lado dos caras da Seleção Brasileira. Ao mesmo tempo, era difícil ser notado e ir para clubes de fora do Nordeste jogar vôlei de areia. Como sou de família humilde, não tinha condição de me bancar fora de casa. Com isto, fui ficando na Paraíba mesmo, até conseguir sair em 2010, sair de jogar vôlei de quadra”, relembra.
Quem também teve que deixar a casa cedo para correr atrás do sonho foi o levantador Anderson. No Vôlei Renata desde 2019, o jovem foi descoberto em um Campeonato Brasileiro Interclubes, em Porto Alegre, pela comissão técnica da base do time campineiro. Depois de fazer todo processo de formação, sendo eleito o melhor levantador sub-21 do Brasil em 2022, o jovem de 22 anos está em sua terceira Superliga pelo projeto de Campinas, mas acabou se lesionando no final do primeiro turno.
“Comecei em um projeto social em Recife. A proposta era de mudança de vida e, de fato, o vôlei foi uma mudança de vida. Tive acesso ao ensino privado, pude representar meu estado, enfim. Lembro que um dos cliques que tive foi nas Olimpíadas de 2016. Claro que pela TV, a realidade um pouco distante, percebi que o que estava fazendo, treinando, poderia ser minha profissão. Ao mesmo tempo, ver um jogo de Superliga, pode mudar a vida de uma pessoa, pois vai ter acesso aos dois melhores times do país”, comenta Anderson.
“Sabemos que o esporte, o vôlei, no nordeste, é escasso de visibilidade. Então, de certa forma, pode mudar muitas visões. Desde uma criança que não tem contato com o esporte, até quem já pratica e pode querer se empenhar mais ainda, ter esse clique. Acredito que o esporte é uma força que nos torna melhor. Então, não tem preço ter uma presença de pessoas que atuem em alto rendimento ali”, encerra.
Lucas Simionato
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