William é ídolo. É referência. É o típico capitão. Esse status não é novidade, e o levantador do Sesi-SP sabe lidar muito bem com isso. Peso, só se for da sua cobrança pessoal por jogar sempre em alto nível e seguir conquistando títulos. O voleibol, que entrou para sua vida quando tinha apenas 9 anos de idade, segue sendo uma das grandes paixões – mesmo 30 anos depois. Uma. A outra é sua família. A esposa, Brunna, e os filhos Nina e Cauã, se unem ao vôlei para levar o jogador cada vez mais longe.
Líder da fase classificatória e único time a conseguir uma vitória por 3 sets a 0 na primeira rodada das quartas de final da Superliga Cimed masculina, o Sesi-SP terá seu segundo compromisso contra o Vôlei UM Itapetininga (SP) nesta quinta-feira (28.03). Em entrevista excluisva ao site da CBV, William garante que o resultado não significa nada para o restante da série. Até porque o levantador faz questão de enaltecer o equilíbrio da atual edição da Superliga Cimed.
Campeão na Liga Argentina, campeão na Superliga Cimed, campeão no Mundial de Clubes, campeão no Sul-Americano de Clubes – sem contabilizar os títulos pela seleção brasileira – William Arjona é acostumado a ser vencedor nos times por onde passa. A próxima meta? Ser campeão com o Sesi-SP, é claro.
– O Sesi-SP foi o único time que abriu a série pelas quartas de final com um 3 a 0. Isso significa alguma coisa para o prosseguimento do campeonato?
O 3 a 0 não significa nada. O que significa é o time estar em uma situação com um padrão de jogo bom, que eu acredito que está incomodando muita gente. Fizemos um segundo turno muito constante, firme e talvez essa seja a coisa mais significante para mim. Não apenas o resutado do 3 a 0, mas a maneira como o time está jogando e encarando essa fase final da Superliga Cimed.
– Essa é a temporada mais equilibrada da Superliga que você já disputou?
Sem dúvida é a mais equilibrada. Vimos jogos com times de menor expressão do que os chamados grandes que deram trabalho, venceram, enfim, mostraram o equilíbrio do campeonato que há muito tempo eu não via. Uma coisa legal desse ponto é que este é o primeiro ano que não tem ranking na Superliga masculina. Muita gente brigou por isso e o primeiro ano sem ranking é o de maior equilíbrio, o que prova que não era isso que definia alguma coisa.
– Qual é a diferença do seu time pros demais para que vocês tenham sido os líderes da fase classificatória?
Cada um tem sua qualidade e seu ponto fraco. Acredito que a nossa equipe tenha encontrado um equilíbrio, uma forma de jogar bem interessante a partir da Libertadores, quando fomos derrotados pelo Sesc RJ na semifinal. Foi um campeonato com grandes equipes e acabou que uma argentina foi a campeã. A partir dali identificamos algumas coisas e o nosso time ficou mais corajoso, aprendeu a jogar de uma outra maneira e acho que ali houve um salto de qualidade.
– Muda alguma coisa na sua preparação individual para enfrentar um playoff?
Para mim, não muda nada. A minha preparação é igual para todos os jogos. Não faço nada de diferente. O que acontece é que playoff já é uma motivação a mais por si só, por ser a parte mais gostosa e importante da competição. É um outro campeonato, como se diz, que é sempre bom de jogar, quando o foco é total nas oito equipes e é o momento mais esperado.
– Você tem alguma superstição antes de entrar em quadra?
Superstição, nenhuma. A única coisa que eu faço é, quando entro em quadra, paro durante uns 30 segundos para pedir proteção, pedir que ninguém saia machucado, para que eu possa fazer as melhores jogadas. É um momento de oração, bem rapidinho. E o que eu mais peço é proteção a todos, pois todos ali são profissionais querendo dar o seu melhor e não acho justo que alguém seja impedido de estar em quadra fazendo o que mais gosta.
– Depois de conquistar títulos com o Sada Cruzeiro e ser eleito o melhor levantador da competição tantas vezes, falta alguma coisa que você ainda queira conquistar na Superliga? Ser campeão com o Sesi é uma meta?
Na vida de um atleta, os títulos ficam para trás, acabam sendo esquecidos e, como eu costumo dizer, ficam apenas na parede da minha casa, como lembranças. Aí, outro campeonato começa e se não houver o mesmo empenho e motivação, tudo que passou vai ser mais esquecido ainda. Somos profissionais e movidos a vitórias e títulos. Dependemos disso para nossa carreira e para ser considerado um dos melhores. Então, não tem como ficar apegado ao que passou. Com certeza, minha maior meta agora é ser campeão com o Sesi-SP. Esse é um clube que investe, tem uma mega estrutura, que tem algo muito importante, que é andar lado a lado com o educacional. O Sesi é uma instituição educacional, isso tem um valor muito grande e, com certeza, ser campeão em um clube desse é diferente porque envolve crianças, sonhos, educação e tudo que eu mais quero é conseguir conquistar um título para essa instituição
– O que mais te motiva para conseguir jogar em alto nível aos 39 anos?
Sem dúvida, a minha família. Hoje meus filhos entendem melhor e me cobram as vitórias, as medalhas e isso é uma motivação enorme. Outra é continuar trabalhando, fazendo o que eu mais gosto, em alto nível, poder estar entre os melhores sempre motiva. Busco isso todos os dias. Acho que não conseguiria continuar jogando se eu não tivesse condição de estar entre o melhores. A busca em melhorar, em crescer, independentemente da idade, acho que ainda tenho muito para melhorar. Não acredito em estagnação. O atleta tem que buscar evoluir até o o ultimo dia da sua carreira e eu pretendo jogar ainda por muito tempo. Não me sinto com a idade que eu tenho. Tenho muita lenha para queimar ainda. E estar em quadra, em uma equipe profissional, de ponta, sendo contratado para ser um dos melhores, um líder da equipe, é uma motivação enorme.
– Você é muito familia. O que essas pessoas representam no seu dia a dia? Há uma influência deles direta no vôlei?
Minha família é tudo. Eu sou isso mesmo, deixo claro em todos os lugares onde estou, em todos os lugares onde apareço. Eles são a base de tudo. Não me vejo longe deles. As viagens hoje já me doem mais do que antigamente porque dois, três dias longe já se tornam um sacrifício para mim. Parece besteira, mas é uma dor enorme não poder estar com eles todos os dias, vendo o crescimento, acompanhando o desenvolvimento dos meus filhos. Isso é algo que não tem preço. É dificil de explicar. Planejei a minha vida para nessa idade ter parado de jogar – mas as coisas nem sempre saem como o planejado – porque eu sabia que ia sofrer com isso. Estou tentando ficar o mais próximo possível. A minha vida gira em função deles e eles me apoiam e motivam todos os dias para que eu siga jogando, podendo dar o melhor para eles. Vou continuar em quadra por mais tempo ainda, até que eu não consiga mais aguentar essa distância.