De fora da etapa de João Pessoa do Circuito Brasileiro de Vôlei de Praia, a primeira de 2020, para se dedicar intensamente a pré-temporada e preparação já visando os Jogos Olímpicos de Tóquio, o craque Evandro deu uma pausa nos treinos para nos atender.
Em entrevista exclusiva ao site da Confederação Brasileira de Voleibol (CBV), Evandro começou falando sobre os títulos individuais de melhor saque conquistados nos últimos cinco anos no Circuito Mundial – ele é eleito desde 2015 o melhor saque do planeta.
Garantido nos Jogos Olímpicos de 2020, quando viverá sua segunda participação, o carioca também comentou sobre a evolução da dupla com Bruno Schmidt, as lições aprendidas na Rio-2016 e, flamenguista apaixonado e assumido, ainda contou sobre algumas inspirações na vida profissional e pessoal.
Você tornou-se o atleta mais premiado do Circuito Mundial no saque, vence seguidamente desde 2015. Como esse fundamento se tornou tão forte no seu voleibol?
A questão do saque vem desde quando comecei a jogar voleibol, na época que era atleta de quadra. Sempre fui bastante alto e com vigor no ataque, então tentava transferir isso para o saque, quase como se fosse um ataque do fundo, treinando bastante os movimentos. Busquei fazer com que meu saque fosse um diferencial, aproveitando meu biotipo. E felizmente, com o passar dos anos, consegui ter constância, regularidade, que são importantes. Fico feliz por esses prêmios e ter quebrado o recorde do russo, que tinha vencido quatro vezes. Isso só me dá mais motivação para seguir buscando evoluir. Vencer essa categoria por tantas vezes aumenta minha responsabilidade em sacar bem, em manter a qualidade nesse fundamento. Bruno confia muito em mim, me deixa bem livre para forçar o saque, mentalmente é um ponto que ajuda demais. E a comissão técnica cobra bastante, eles estão por trás disso tudo, estudando os números, analisando meu desempenho. Sabem a diferença que o saque faz no vôlei de praia atual.
O que mudou taticamente em seu jogo desde o começo da parceria com o Bruno Schmidt? Como é a relação de vocês?
Me tornei um atleta muito mais paciente. Quando Bruno atuava ao lado do Alison, normalmente sacavam mais no Alison. A mesma coisa quando ele se junto ao Pedro Solberg, a maioria sacava no Pedro. E atualmente ele recebe a maioria dos saques, é mais acionado no ataque do que eu. Tive que aprender a jogar muito concentrado na preparação das jogadas, nos levantamentos, movimentação, sendo menos acionado no ataque. Ele precisa que eu tenha todo capricho nos fundamentos para que a gente marque os pontos. Ele é um cara fantástico, jogamos juntos pela primeira vez em uma edição do ‘Rei da Praia’ e pude perceber a qualidade técnica dele. Além de ser um irmão ‘mais velho’, uma pessoa muito do bem. Nossas famílias se dão muito bem também, isso tudo vem para somar, nosso time se fortaleceu muito ao longo de 2019 e vai crescer ainda mais.
Como é sua relação com o técnico Ednílson Costa? São quase 10 anos de convívio.
Saímos para jantar há pouco e nos demos conta que completamos nove anos trabalhando juntos. É muito tempo, passamos por muitas coisas juntos, coisas boas, algumas coisas difíceis. Quando perdi meu pai, ele estava ao meu lado, quando minha mãe teve problemas de saúde, ele estava ao meu lado. É uma relação que vai além das quadras, é muito mais do que um técnico, é como um pai para mim. Inclusive ouço muito ele nas coisas que faço em minha vida particular, minha mãe e irmã também estão direto em contato com ele. Está sempre presente. Não tenho palavras para descrever a gratidão que tenho ao Ednilson Porangaba Costa Junior. Ele me cobra muito, mas nós sabemos diferenciar a parte profissional e pessoal, isso me fortalece muito profissionalmente. Minha evolução como atleta e pessoa está muito ligada a ele, um parceiro de vida, sem dúvida.
Que lições você leva da experiência olímpica da Rio-2016 para Tóquio-2020?
Acho que o que vou levar de 2016 para 2020 é a experiência da vivência olímpica e a sensação de responsabilidade que é representar o país. Algumas coisas que tivemos para 2016 e vimos que poderiam ser diferentes, vamos reajustar, fazer diferente. Temos essa chance de moldar nossa programação com a vaga já assegurada. Estou mais experiente. Sei que vou chegar bem preparado, no meu melhor momento, concentrado. Quero poder auxiliar o Bruno da melhor maneira possível para alcançarmos nosso objetivo, que é uma medalha. Não colocamos uma cor específica, mas definimos que nosso objetivo é chegar ao pódio, mas dando um passo de cada vez, trabalhando bem nos torneios que serão realizados até lá. É importante chegar bem ranqueado para que tenhamos uma boa chave. Vivi coisas muito especiais na Rio 2016, só não foi o ideal por não termos alcançado o objetivo final. Mas agora é uma história diferente, um novo time e vamos trabalhar bastante até desembarcarmos em Tóquio.
Se não fosse atleta de vôlei de praia, que profissão gostaria de seguir?
Admiro muito os médicos, enfermeiros, pessoas que ajudam a salvar vidas e cuidam da saúde dos demais. Tenho um espelho em casa, que é minha irmã, enfermeira muito dedicada, excelente profissional. Mas me vejo mais como bombeiro, profissão de uma grande amiga, Joana. Admiro demais a ocupação deles, se dedicar para salvar vidas, prestar apoio à população e estar sempre disponível nas situações mais difíceis. Seria algo que gostaria de seguir, gostaria até de conhecer as instalações e conversar com os bombeiros aqui de Copacabana um dia.
E quais são seus grandes ídolos, dentro e fora do esporte?
Tenho três grandes ídolos na minha vida. O primeiro foi meu pai, sou fã de tudo que ele fez por nossa família, o apoio que recebi dele para me tornar atleta profissional. Ele está nos meus pensamentos sempre que ganho algum título. No Campeonato Mundial de 2017, quando desabei após o título, a imagem dele veio na minha mente, era uma competição que ele gostaria de me ver jogando. Ele sempre batalhou demais para superarmos todas as dificuldades. E na esfera esportiva, um grande ídolo era o Ayrton Senna. Eu era bastante novo no período de conquistas do Senna, mas acordava para acompanhar as corridas ao lado do meu pai. Ele revolucionou o esporte brasileiro com títulos e transmitindo uma imagem de perseverança, de comprometimento, trabalho. E por último o Stephen Curry. Gosto muito de basquete e adoro vê-lo jogando. Fico tentando observar a maneira como ele analisa taticamente os jogos, como usa a habilidade dele para o coletivo. É um jogador espetacular. E não posso deixar de citar o Gabigol (risos), me deu muitas alegrias recentemente e virou um ídolo.