Uma das modalidades mais vitoriosas do esporte brasileiro, o vôlei de praia apresentou uma evolução importante nas últimas três décadas. Desde a primeira temporada do Circuito Brasileiro em 1991 até o ouro olímpico de Alison e Bruno Schmidt nos Jogos Olímpicos do Rio em 2016, a modalidade cresceu em importância e em estrutura, e parte deste crescimento passa pelas mãos de Gilmário Ricarte, o Gilmário Cajá, e Rossini Freire, convidados desta terça-feira (09.11) na Academia do Voleibol.
Respectivamente técnico e preparador físico da dupla Ricardo e Emanuel no ouro olímpico em Atenas 2004, Gilmário e Rossini são dois pioneiros no treinamento da modalidade. E por esta razão tiveram a missão de contar sobre a evolução do vôlei de praia e a capacitação de treinadores ao longo do tempo.
A Academia do Voleibol foi criada para incentivar a troca de experiências e conhecimento entre os profissionais da modalidade durante a pandemia de COVID-19. Desde junho acontecem as palestras de forma virtual e gratuita semanalmente.
O presidente da Comissão Nacional de Treinadores (Conat), Carlos Rios, apresentou a dupla de doutores e agradeceu a contribuição de Gilmário e Rossini tanto para o desenvolvimento do esporte, quanto na palestra desta terça-feira.
“Nossa ideia com a Academia do Voleibol agora é mostrar como o voleibol e o vôlei de praia evoluíram. Nós já fizemos diversos encontros para troca de conhecimento científico. E hoje estamos com dois profissionais que estiveram na primeira edição dos Jogos Olímpicos em que o vôlei de praia fez parte da programação oficial. Eles estão aqui para contar essa história, como fizemos em relação à capacitação. Hoje temos a honra de ter o Rossini e o Gilmário Cajá para trazer um pouco de como o vôlei de praia tem se desenvolvendo no país ao logo dos anos”, disse Carlos Rios.
Gilmário e Rossini começaram contando sobre a primeira participação oficial do vôlei de praia em uma edição de Jogos Olímpicas, em Atlanta 1996. Rossini, que é professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), era da comissão técnica da dupla Zé Marco e Emanuel e relembrou das dificuldades da época e como foi importante contribuir para a evolução da modalidade.
“Na primeira edição olímpica com a presença do vôlei de praia, nós ficamos sabendo em cima da hora que a comissão técnica não teria acesso aos jogos. Que o contato direto com os atletas seria muito restrito. Hoje a relação é outra, a estrutura mudou, temos mais planejamento e preparação pensada para a conquista de uma medalha. Nós construímos juntos essa história, cometemos alguns erros, mas com os acertos nós conseguimos ajudar a colocar o vôlei de praia no patamar que se encontra”, disse Rossini, que lembrou dos métodos rudimentares usados à época.
“Nós começamos fazer análise de desempenho de forma rudimentar com canetas de cores diferentes, régua, usando papel. Depois conseguimos uma câmera que usávamos para gravar, assistir e editar os jogos que estudávamos. Uma evolução que tivemos foi no aspecto de estrutura. Em 2004 nós tínhamos um suporte incrível. Uma quadra exclusiva para treinarmos com a mesma areia da arena de competição nos Jogos. Um carro à disposição. Coisas que fizeram diferença na hora”, completou Rossini.
O acadêmico ainda destacou o patamar alcançado pelo Brasil no âmbito internacional do vôlei de praia, que hoje é exemplo para outros países que, inclusive, buscam a mão de obra e o conhecimento brasileiro para desenvolver a modalidade.
“O Brasil chegou a um estágio de evolução do vôlei de praia que começamos a exportar mão de obra e conhecimento. Técnicos brasileiros começaram a se espalhar pelo mundo. Hoje a estrutura em países como Alemanha, Holanda, Noruega, Áustria e Rússia têm modelos interessantes. Por muitos anos os times brasileiros estiveram em grande destaque, e quase com uma hegemonia, com esse intercâmbio feito nos últimos anos, começamos a ver duplas de países que até então tinham menos tradição na modalidade passaram a ser protagonistas ao lado dos brasileiros”, contou Rossini.
Gilmário Cajá, que também é professor na UFPB, relembrou do que foi feito em 2004 com a dupla Ricardo e Emanuel, a formação de equipe multidisciplinar no vôlei de praia, ainda pouco comum naquela época.
“Em 2004, para Atenas, nós criamos uma equipe multidisciplinar com psicóloga, analista de desempenho, tínhamos dados das outras duplas. Tínhamos informações de todos os lados. Buscamos os detalhes para fazer a diferença na competição. O jogo de vôlei de praia depende muito da tomada de decisão do atleta, e qualquer informação a mais possível ajudava”, lembrou Gilmário.
Cajá trouxe ainda detalhes do primeiro curso nível III de treinador de vôlei de praia, ministrado pela Universidade Corporativa do Voleibol (UCV), que acontece entre novembro (parte à distância) e dezembro (presencial em Saquarema).
“Agora teremos o advento do curso nível III de treinadores de vôlei de praia promovido pela Universidade Corporativa do Voleibol. Estamos com uma grade muito completa, com profissionais gabaritados, palestras de importantes técnicos como o Reis Castro e o Marco Char, das duas duplas femininas que estarão nos Jogos de Tóquio, o Ernesto Vogado, técnico que é o atual tricampeão brasileiro também dará uma contribuição. Nós vamos abordar diversas áreas do conhecimento que hoje têm impacto na preparação de uma dupla de vôlei de praia. Este curso é para preparar o profissional e deixá-lo apto a trabalhar uma dupla que vá representar o Brasil em competições internacionais, buscar títulos”, contou Gilmário.
Esse foi o 49° encontro da Academia do Voleibol, que realiza reuniões virtuais com temas variados sobre vôlei de praia, vôlei de quadra e Conat. O conteúdo fica disponibilizado no Canal Vôlei Brasil (http://canalvoleibrasil.cbv.com.br).
O Banco do Brasil é o patrocinador oficial do voleibol brasileiro