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Dois anos após cirurgia por câncer de mama, Fabiola Constâncio retorna às quadras

Recuperada

12 de julho de 2021

Fabíola (esq.) jogou as duas etapas com Natasha

(Divulgação/CBV)

A linha do tempo da vida de Fabiola Constâncio (DF) tem sido uma espécie de montanha-russa nos últimos anos. Após parar de jogar em outubro de 2018, a atleta de vôlei de praia descobriu um câncer de mama em abril do ano seguinte. No dia 3 de julho de 2019, ela passou pela primeira de duas cirurgias que teve que fazer. Exatamente dois anos depois – com 16 sessões de quimioterapia no meio – a jogadora do Distrito Federal voltou a viver uma emoção que achou que nunca mais sentiria: competir profissionalmente no Circuito Brasileiro de vôlei de praia.

“É uma doença que te pega tanto, te deixa tão para baixo de energia mesmo, de imunidade, de você não conseguir fazer praticamente nada, que eu ficava vendo as meninas jogando pela televisão, via uns vídeos meus antigos e falava ‘Gente, como eu conseguia fazer isso?’. Porque eu estava me vendo tão distante daquela realidade. Eu achava mesmo que não ia conseguir, é um tratamento muito agressivo. Eu pensava que ia voltar a fazer algum esporte porque, mesmo fazendo tratamento, consegui fazer alguns treinos, não parei, mas bem abaixo do que é ser atleta realmente. E eu não me via em condições de voltar mesmo, achava que não conseguiria. Era uma realidade muito distante para mim, eu não me via voltando, não me via fazendo nada disso, mas a vida foi acontecendo, e a gente que é atleta tem essa coisa de superação”, contou.

A ideia de voltar a jogar surgiu quando fazia uma tatuagem para marcar sua recuperação, em novembro do ano passado. Ela confessa que ainda não sabe se o retorno faz muito sentido, mas a possibilidade de impactar e estimular outras pessoas, além de conscientizar sobre o câncer de mama, são motivos de sobra para ela tentar. A jogadora criou ainda um perfil no Instagram chamado "Fabiola Consciente" para falar mais sobre a doença.

“Esse foi o intuito maior de eu querer voltar a jogar, de ser um estímulo para as pessoas, de ser uma referência de esperança, de volta por cima. Porque, quando eu estava doente, eu precisava ter essa referência de olhar para alguém. Claro que existem muitas referências também. Mas as pessoas que me acompanharam se sentiam muito inspiradas, e achei que voltar a jogar seria inspirador. Acho que o esporte é um canal maravilhoso para chamar atenção para essa causa. É uma oportunidade que estou tendo, hoje me sinto com uma certa responsabilidade de falar da doença. Eu não acho que passei por nada disso à toa, acho que preciso ser uma voz representativa. E o intuito de voltar a jogar é muito disso, de ser esse exemplo, de ser essa referência para essas pessoas acreditarem que depois que a tempestade passa você pode ter sua vida retomada normalmente. E acho que é importante usar esse canal para falar do câncer de mama, que é uma doença que mata muitas mulheres, que as pessoas ainda não têm muita conscientização. Eu descobri quando tinha 35 anos, e a partir disso pessoas que estavam ao meu redor começaram a se preocupar mais, se interessar. Acho que preciso falar disso e acho que o esporte é um canal para isso”, destacou Fabiola.

Ao lado de Natasha Valente (RJ), Fabíola disputou a terceira e quarta etapas Challenger do Circuito Brasileiro de vôlei de praia 20/21 no início deste mês. Foram três partidas ao todo e, mesmo sem conseguirem vitórias, a emoção e alegria delas em quadra não mudou nada.

“Eu fiquei segurando muito o choro, desde que eu estava indo do hotel para o jogo. Reencontrar algumas pessoas me deixou muito emocionada. Eu fiquei em um misto de ‘deixo me levar para emoção ou controlo?’. Acabei controlando. Mas, para mim, estar aqui é uma vitória muito grande. Depois de tudo que passei, realmente não imaginava que poderia fazer isso novamente. Com certeza, é muita gratidão por estar de volta”, disse Fabiola.

Fabíola pode ainda não ter vencido jogos em seu retorno, mas ganhou muito carinho no torneio, vários abraços – e algumas lágrimas.

“Eu acho que essa é a parte mais especial para mim, além claro de voltar a jogar, de sentir aquele nervosismo. Mas, receber o abraço das pessoas… tem gente que te abraça que você não consegue segurar. Eu não tenho palavras para esse momento, porque acho que é isso que importa na verdade. A gente está em um ambiente que é muito competitivo e receber esse carinho, ver as atletas torcendo pela minha volta, felizes por eu ter conseguido voltar, isso não tem preço para mim, é especial”.

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